O Papel do Professor
O professor é o grande agente do processo educacional, diz o Dr. Gabriel
Chalita, autor do livro "Educação - a solução está no afeto". E ele
prossegue: "A alma de qualquer instituição de ensino é o professor. Por
mais que se invista na equipagem das escolas, em laboratórios, bibliotecas,
anfiteatros, quadras esportivas, piscinas, campos de futebol - sem negar a
importância de todo esse instrumental -, tudo isso não se configura mais do que
aspectos materiais se comparados ao papel e à importância do professor."
Mas, professor Gabriel, perguntamos, há quem afirme que o computador irá
substituir o professor, e que nesta era em que a informação chega de muitas
maneiras, o professor perdeu sua importância. Ele responde, com serenidade:
"O computador nunca substituirá o professor. Por mais evoluída que seja a
máquina, por mais que a robótica profetize evoluções fantásticas, há um dado
que não pode ser desconsiderado: a máquina reflete e não é capaz de dar afeto,
de passar emoção, de vibrar com a conquista de cada aluno. Isso é um privilégio
humano."
Deste ponto em diante, deixaremos que a entrevista siga como monólogo,
porque quem tem ouvidos de ouvir, que ouça.
"Pode-se ter todos os poemas, romances ou dados no computador, como
há nos livros, nas bibliotecas; pode até haver a possibilidade de buscar
informações pela Internet, cruzar dados num toque de teclas, mas falta a emoção
humana, o olhar atento do professor, sua gesticulação, a fala, a interrupção do
aluno, a construção coletiva do conhecimento, a interação com a dificuldade ou
facilidade da aprendizagem.
Os temores de que a máquina possa vir a substituir o professor só
atingem aqueles que não têm verdadeiramente a vocação do magistério, os que são
meros informadores desprovidos de emoção. Professor é muito mais do que isso.
Professor tem luz própria e caminha com pés próprios. Não é possível que ele
pregue a autonomia sem ser autônomo; que fale de liberdade sem experimentar a
conquista da independência que é o saber; que ele queira que seu aluno seja
feliz sem demonstrar afeto. E para que possa transmitir afeto é preciso que
sinta afeto, que viva o afeto. Ninguém dá o que não tem. O copo transborda
quando está cheio; o mestre tem de transbordar afeto, cumplicidade, participação
no sucesso, na conquista de seu educando; o mestre tem de ser o referencial, o
líder, o interventor seguro, capaz de auxiliar o aluno em seus sonhos, seus
projetos.
A formação é um fator fundamental para o professor. Não apenas a
graduação universitária ou a pós-graduação, mas a formação continuada, ampla,
as atualizações e os aperfeiçoamentos. Não basta que um professor de matemática
conheça profundamente a matéria, ele precisa entender de psicologia, pedagogia,
linguagem, sexualidade, infância, adolescência, sonho, afeto, vida. Não basta
que o professor de geografia conheça bem sua área e consiga dialogar com áreas
afins como história; ele precisa entender de ética, política, amor, projetos,
família. Não se pode compartimentar o conhecimento e contentar-se com bons
especialistas em cada uma das áreas.
Para que um professor desempenhe com maestria a aula na matéria de sua
especialidade, ele precisa conhecer as demais matérias, os temas transversais
que devem perpassar todas elas e, acima de tudo, conhecer o aluno. Tudo o que
diz respeito ao aluno deve ser de interesse do professor. Ninguém ama o que não
conhece, e o aluno precisa ser amado! E o professor é capaz de fazer isso. Para
quem teve uma formação rígida, é difícil expressar os sentimentos; há pessoas que
não conseguem elogiar, que não conseguem abraçar, que não conseguem sorrir. O
professor tem de quebrar essas barreiras e trabalhar suas limitações e as dos
alunos.
Não há como separar o ser humano profissional do ser humano pessoal.
Certamente o professor, como qualquer pessoa, terá seus problemas pessoais,
chegará à escola mais sisudo que o habitual e terá mais dificuldade em
desempenhar seu trabalho em sala de aula. Os alunos notarão a diferença e a
eventual impaciência do professor nesse dia, mas eles não sabem os motivos da
sisudez do mestre e podem interpretar erroneamente. Exatamente por isso é
preciso cuidar para que contrariedades pessoais não venham à tona, causando
mágoas e ressentimentos.
Ao enfrentar problemas de ordem pessoal o professor deve procurar o
melhor meio para sair do estado de espírito sombrio e poder desempenhar seu
trabalho com serenidade. A leitura dos clássicos, o contato com a arte, com a
natureza, uma boa terapia, uma reflexão mais profunda sobre a contrariedade por
que se está passando pode ajudar muito. Ninguém é mau em essência, como já
dissemos, mas um professor descontrolado deve rever seu comportamento sob pena
de ser mal interpretado por seus alunos.
Sabe-se que a dificuldade financeira é um obstáculo para a maior parte
dos professores deste país, mas não pode servir de desculpa: há numerosos
programas culturais gratuitos, há bibliotecas públicas, a natureza está aí e
não cobra nada para ser contemplada. Não se trata de ignorar a lamentável
situação em que se encontram os professores no que diz respeito aos patamares
salariais. Essa classe vem sendo tratada com desrespeito pela grande maioria
dos administradores públicos do país. Para obras de cimento e cal sempre há
dinheiro, para um salário digno de quem forma o cidadão brasileiro não há
verbas. Entretanto, isso não pode ser desculpa para a acomodação, para a
negligência ou para a impaciência. O professor tem o direito constitucional de
fazer greve e ninguém pode deixar de respeitá-lo por isso, mas não tem o
direito de ser negligente, incompetente, displicente, porque o aluno não tem
culpa. Se o problema é com os administradores, eles é que devem ser
enfrentados. É melhor entrar em greve, com todos os problemas decorrentes
disso, do que dar uma aula sem alma apenas porque não se ganha o suficiente.
Desde os primórdios da cultura grega, o professor se encontrar em uma
posição de importância vital para o amadurecimento da sociedade e a difusão da
cultura. As escolas de Sócrates, Platão e Aristóteles demonstram a habilidade que
tinham os pensadores para discutir os elementos mais fundamentais da natureza
humana. Não perdiam tempo com conteúdos engessados. Discutiam o que era
essencial. Sabiam o que era essencial porque viviam da reflexão, e a aula era o
resultado de um profundo processo de preparação. Assim foi a escola de
Abelardo, com os alunos quase extasiados pelo carisma do professor e pela forma
envolvente e sedutora como eram tratados os temas. Sócrates andava com seus
alunos e ironizava a sociedade da época com o objetivo de fazê-los pensar, de
provocar-lhes a reflexão, o senso crítico. Não se conformava com a passividade
de quem acha que nada sabe e nunca conseguirá sabem nem com a arrogância de
quem acredita que tudo sabe e, portanto, nada mais há que mereça ser estudado
ou refletido.
Jesus Cristo, o maior de todos os mestres da humanidade, contava
histórias, parábolas e reunia multidões ao seu redor, fazendo uso da pedagogia
do amor. Quem era esse pregador que falava de forma tão convincente, ensinava
sobre um novo reino e olhava nos olhos com a doçura e a autoridade de um
verdadeiro mestre? A multidão vinha de longe para ouvi-lo falar, para aprender
sobre esse novo reino e sobre o que seria preciso fazer para alcançar a
felicidade. O grande mestre não precisava registrar as matérias, não se
desesperava com o conteúdo a ser ministrado nem com a forma de avaliação, se
havia muitos discípulos ou não. Jesus sabia o que queria: construir a
civilização do amor. E assim navegava em águas tranquilas, na maré correta, com
a autoridade de quem tem conhecimento, de quem tem amor e de quem acredita na
própria missão.
Sócrates e Cristo foram educadores, formaram pessoas melhores. Não há
como negar que os numerosos profetas ou os simples contadores de história
conseguiram tocar e educar muito mais do que qualquer professor que saiba de
cor todo o plano curricular e tudo o que o aluno deve decorar para ser
promovido. Ninguém foi obrigado a seguir a Cristo, não havia lista de presença
nem chamada, e mesmo assim a multidão se encantava com seus ensinamentos - ele
tinha o que dizer e acreditava no que dizia, por isso foi tão marcante.
O professor precisa acreditar no
que diz ter convicção em seus ensinamentos para que os alunos também acreditem
e se sintam envolvidos. Precisa de preparo para ir ao rumo certo e alcançar os
objetivos que almeja.
O professor que não prepara as aulas desrespeita os alunos e o próprio
ofício. É como um médico que entra no centro cirúrgico sem saber o que vai
fazer e sem instrumentação adequada. Tudo na vida exige uma preparação. Uma
aula preparada, organizada, com o conteúdo refletido muito provavelmente será
bem sucedida. Aula previamente preparada não significa aula engessada: não lhe
dará o direito de falar compulsivamente, sem permitir intervenção do aluno, não
dialogar com a vida, não dar ensejo a dúvidas; o professor não deixará de
discutir outros temas que surgirem apenas porque tem que cumprir o roteiro de
aula que preparou. Pode até ocorrer que ele dê uma aula diferente daquela que
planejou, mas isso é enriquecedor.
Preparação é planejamento. Muitos professores fazem o planejamento do
início do ano de qualquer maneira, apenas para cumprir exigências formais. É
lamentável. Se o professor investir tempo refletindo cada item de seu
planejamento, sem dúvida terá muito menos trabalho durante o ano para o
cumprimento de seus objetivos porque planejou, sabe aonde quer chegar, sabe o
tipo de habilidade que precisa ser trabalhada e como avaliar o processo do
aluno.
A partir da minha experiência por meio de contatos no Brasil e fora
daqui, passo agora a compor um quadro com os tipos mais comuns de professor que
se pode encontrar. Como todo o respeito que merece a categoria como um todo,
nota-se frequentemente a recorrência dos mesmos gêneros de atuação em sala.
PROFESSOR ARROGANTE
Ele se acha o detentor do conhecimento. Fala de si o tempo todo e coloca
os alunos em um patamar de inferioridade. Ao menor questionamento, pergunta
quantas faculdades já fez o aluno, se já escreveu algum livro, se já defendeu
teses, para se mostrar superior. Gosta de parecer um mito; teima em propalar,
às vezes inventando, os elogios que recebe em todos os congressos dos quais
participa; conta histórias a respeito de si mesmo para mostrar quanto é
competente e querido. Não gosta de ser interrompido, não presta atenção quando
algum aluno quer lhe contar um feito seu. Só ele interessa; só ele se basta.
O que se pode dizer é que o professor arrogante tem uma rejeição a si
mesmo e não acredita em quase nada do que diz. Como sofre, possivelmente, de
complexo de inferioridade, precisa de auto afirmar usando a plateia cativa de
que dispõe: os alunos.
PROFESSOR INSEGURO
Tem medo dos alunos; teme ser rejeitado, não conseguir dar aula, não ser
ouvido porque acha que sua voz não é tão boa. Não sabe como passar a matéria
apesar de ter preparado tudo; acha que talvez fosse melhor usar outro método;
teme que os alunos não gostem de sua forma de avaliação. Começa a aula várias
vezes e se desculpa, e pede ainda que esqueçam tudo, e recomeça. Tem receio de
que os pais dos alunos não gostem de sua forma de relacionamento com eles,
receia também a direção da escola, os outros professores e se vê paralisado,
com seu potencial de educador inutilizado.
O medo de fato paralisa e dificulta o crescimento profissional. Apesar
de ser um sentimento normal e frequente, é preciso que seja trabalhado. Um ator
quando entra em cena geralmente está tenso, nervoso, mas seu talento consiste
em não transmitir essa sensação para a plateia. Ele precisa confiar no que está
fazendo e superar a insegurança. Se o professor não acreditar no que diz, será
ainda mais difícil ao aluno fazê-lo.
PROFESSOR LAMURIANTE
O professor lamuriante reclama de tudo o tempo todo. Reclama da situação
atual do país, da escola, da falta de participação dos alunos, da falta de
material para dar um bom curso, do currículo, das poucas aulas que tem para
ministrar sua matéria. Passa sempre a impressão de que está arrasado e não
encontrar prazer no que faz. Às vezes se aproveita da condição de professor e
usa a turma para fazer terapia. Fala do filho, da filha, da empregada, da
cozinheira, da ingratidão de amigos etc. Mais uma vez, se trata do abuso da plateia
cativa.
A dignidade de um profissional é requisito básico para uma relação de
trabalho. No magistério, essa norma é um mandamento, na medida em que o
professor trata com pessoas em formação, que não são seus iguais em nenhuma
hipótese.
PROFESSOR DITADOR
É aquele que não respeita a autonomia do aluno. Trabalha como se fosse
um comandante em batalha; exige disciplina a todo o custo. Grita e ameaça. Não
quer um pio, zela pela sala como se fosse um presídio; ninguém pode entrar
atrasado nem sair mais cedo; ninguém pode ir ao banheiro, é preciso disciplinar
também as necessidades fisiológicas. Dia de prova parece também dia de glória:
investiga aluno por aluno, proíbe empréstimo de material, ameaça quem olhar
para o lado. Tem acessos de inspetoria higiênica, investiga as unhas das mãos e
os cabelos. Grita exigindo silêncio quando o silêncio já reinava desolado na
sala.
O professor ditador está perdido na necessidade de poder. Poder e
respeito não se impõem, se conquistam. Há determinadas práticas que se
perpetuam sem razão; são contraproducentes e muito danosas para o aluno mas,
principalmente, fazem muito mal ao professor que as revive.
PROFESSOR BONZINHO
Diferentemente do ditador, o bonzinho tenta forçar amizade com o aluno.
Gosta de dizer quanto gosta dos alunos. Traz presentes, dá notas altas indiscriminadamente.
Seus alunos decidem se querem a prova com ou sem consulta, em grupo ou
individualmente, depois propala sua generosidade. Às vezes ainda tem a audácia
de se comparar aos colegas, afirmando que os outros professores não fariam
isso. Durante a prova responde as questões para os alunos, para que não fiquem
tristes, para que não tirem nota baixa. Concede outra chance e dá outra prova
para quem foi mal, idêntica à anterior só para tirar uma nota bem boa. Pede
desculpa quando a matéria é muito difícil e só falta pedir desculpa por ter
nascido.
A amizade também é um processo de conquista e esse professor acaba sendo
motivo de chacota entre os alunos. Tudo o que vem dele parece forçado porque
procede de uma carência de atenção e de uma necessidade infantil de aceitação.
PROFESSOR DESORGANIZADO
Esse aparece em aula sem a menor ideia do que vai tratar. Não lê, não
prepara as aulas, não sabe a matéria e se transforma em um tremendo enrolador.
Sua desorganização é aparente: como não faz planejamento, não sabe o tipo de
tarefa que vai propor, então inventa na hora e na aula seguinte não se lembra
de cobrar os alunos nem comenta sobre o que havia pedido. Como não sabe o que
vai ministrar, põe-se a conversar com os alunos e a discutir banalidades. De
repente, para dinamizar a aula, resolve promover um debate: o grupo A defende a
pena de morte, o grupo B será contrário à pena de morte, sem nenhum preparo
anterior, nenhum subsídio contra ou a favor.
O profissional precisa ter método. A organização é prova do compromisso
que ele tem para com os alunos. A improvisação, muitas vezes necessária e
enriquecedora, não prescinde do planejamento, como já dissemos.
PROFESSOR OBA-OBA
Tudo é festa! Esse tipo adora as dinâmicas em sala. Projeta muitos
filmes, leva algumas reportagens; faz com que os alunos saiam da sala para
observar algum fenômeno na rua ou no céu, fala em quebra de paradigmas, tudo
conforme pregam os chamados consultores de empresas, mas sem amarração, sem
objetividade. A dinâmica pode ser ótima, mas é preciso que o aluno entenda por
que ele está fazendo parte daquela atividade. O filme pode ser fantástico, mas
se cada dia vier um filme diferente e não houver discussão, aprofundamento,
perde-se o sentido. Há aquele professor que gosta de levar música para a sala
de aula, comentar uma letra da MPB ou explicar As quatro estações, de Vivaldi.
É interessante, desde que não se faça isso sempre, porque os alunos sentem
falta do nexo com a matéria que devem aprender. E o que deveria ser um elemento
agradavelmente surpreendente se transforma em motivo de chacota.
Esse professor é bem intencionado, não há dúvida. Mas falta-lhe
estabelecer com os alunos a relação desses jogos de sensibilização com o
conteúdo da matéria que cabe a ele ministrar.
PROFESSOR LIVRESCO
Ao contrário da oba-oba, o professor livresco tem uma vasta cultura.
Possui um profundo conhecimento da matéria, mas não consegue relacioná-la com a
vida. Ele entende de livros, não do cotidiano. Além disso, não utiliza dinâmica
alguma, não muda a tonalidade da voz, permanece o tempo todo em apenas um dos
cantos da sala e suas ações são absolutamente previsíveis. Todos sabem de
antemão como vai começar e como vai terminar a aula; quanto tempo será dedicado
para a exposição da matéria, quanto tempo para eventuais questionamentos. Não
importa se o aluno está acompanhando ou não seu raciocínio, ele quer dizer tudo
o que preparou para ser dito.
Apesar de ter embasamento, dominar o conteúdo, é necessário aprimorar a
forma, trabalhar com a habilidade da didática. Ensaiar mudança na metodologia.
Às vezes, o professor livresco piora quando resolve inovar: leva um
retroprojetor para a sala, e as lâminas contêm transcrito, tudo o que vai ler
em voz alta. E aquela aula se torna interminável e cansativa.
PROFESSOR "TÔ FORA"
Ele não se compromete com a comunidade acadêmica. Não quer saber de
reunião, de preparação de projetos comuns, de vida comunitária. Nem festa
junina, nem gincana cultural ou esportiva, nem festa de final de ano. Ele dá
sua aula e vai embora. Muitas vezes é até bom professor, mas não evolui sua
relação social nem o conteúdo interdisciplinar porque não está presente. Alguns
são arrogantes a ponto de achar que não têm o que aprender que estão acima dos
outros professores e, portanto não vão ficar discutindo bobagens. Outros estão
preocupados com as lutas do dia-a-dia pela sobrevivência e como não estão
ganhando para trabalhar em festas juninas, por exemplo, se negam a participar.
O processo educativo é comunitário. O bom ambiente escolar depende da participação
de todos. A mudança dos paradigmas ocorre quando cada um dá sua parcela de
contribuição e é capaz de permitir que o outro também opine, também participe.
Ninguém é uma ilha de excelência que prescinda de troca de experiências.
PROFESSOR DEZ QUESTÕES
Para sua própria segurança, o professor "dez questões" reduz
tudo o que ministrou num só bimestre a um determinado número de questões: dez,
nove, 15, não importam. Ele geralmente passa toda a matéria no quadro-negro ou
em forma de ditado. Quando há livro, pede que os alunos leiam o que está ali e
façam resumo ou respondam às questões. Corrige se necessário, questão por
questão. Geralmente as questões não são relacionais, não são críticas. No campo
das ciências exatas, o aluno deve decorar as fórmulas para a solução dos
problemas. E no fim do bimestre o professor apresenta algumas questões que os
alunos devem decorar para a prova. Em sua "generosidade" avisa que
dessas dez questões vai usar apenas cinco na prova. Ou alunos decoram ou, se forem
mais astutos, colam; acabada a prova, joga-se fora a cola ou joga-se fora da
memória àquilo que foi decorado. No outro bimestre, como o ponto é outro,
haverá outras dez questões para ser decoradas e assim sucessivamente: a
aprendizagem não significou nada a não serem algumas técnicas de memorização e
de burla.
É inadmissível que com tantos recursos à disposição um professor se
sirva de técnicas antiquadas e sem sentido. Exigir que um aluno decorasse
coisas cujo sentido ele nem percebe, que nem mesmo tornarão a ser mencionadas
no decorrer dos estudos, constitui um absurdo que será antes de tudo constatado
pelo próprio aluno.
PROFESSOR TIOZINHO
"Tiozinho", no sentido depreciativo, é aquele professor que
gasta aulas e mais aulas dando conselhos aos alunos. Trata-os como se fossem
seus sobrinhos, quer saber tudo sobre a vida deles, o que fazem depois da
escola, aonde vão, os lugares que frequentam e emite opiniões em assuntos de
cunho privado que absolutamente não competem a ele. O professor tiozinho de
sente um pouco psicólogo também, e maus psicólogo, é claro. Começa desde logo a
diagnosticar os problemas dos alunos e se acha qualificado para isso.
Geralmente conselho não funciona com aluno. O espaço que o professor dá
é aquele que permite ao aluno sentir-se à vontade para conversar, nunca para
que se sinta obrigado a expor sua vida privada em sala porque o professor quer
ser um "tio" bom. E isso não muda comportamento; a amizade e a
confiança não podem ser forçadas, nascem de um movimento natural de convivência
saudável.
PROFESSOR EDUCADOR
O professor que se busca construir é aquele que consiga de verdade ser
um educador, que conheça o universo do educando, que tenha bom senso, que
permita e proporcione o desenvolvimento da autonomia de seus alunos. Que tenha
entusiasmo, paixão; que vibre com as conquistas de cada um de seus alunos, não
descrimine ninguém, não se mostre mais próximo de alguns, deixando os outros à
deriva. Que seja politicamente participativo, que suas opiniões possam ter
sentido para os alunos, sabendo sempre que ele é um líder que tem nas mãos a
responsabilidade de conduzir um processo de crescimento humano, de formação de
cidadãos, de fomento de novos líderes.
Ninguém se torna um professor perfeito, aliás, aquele que se acha
perfeito, e, portanto nada mais tem a aprender, acaba de transformando num
grande risco para a comunidade educativa. No conhecimento não existe o ponto
estático - ou se está em crescimento, ou em queda. Aquele que se considera
perfeito está em queda livre porque é incapaz de rever seus métodos, de ouvir
outras ideias, de tentar ser melhor.
A grande responsabilidade para a construção de uma educação cidadã está
nas mãos do professor. Por mais que o diretor ou o coordenador pedagógico
tenham boa intenção, nenhum projeto será eficiente se não for aceito, abraçado
pelos professores porque é com eles que os alunos têm maior contato.
O artigo 13 da LDB sobre a função dos professores:
Artigo 13 - Os docentes incumbir-se-ão de:
I. Participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de
ensino;
II. Elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica
do estabelecimento de ensino;
III. Zelar pela aprendizagem dos alunos;
IV. Estabelecer estratégias de recuperação dos alunos de menor
rendimento;
V. Ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de
participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e
ao desenvolvimento profissional;
VI. Colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias
e a comunidade.
Nota-se que o papel do professor, segundo a LDB, está muito além da
simples transmissão de informações. Dentro do conceito de uma gestão
democrática, ele participa da elaboração da proposta pedagógica do
estabelecimento de ensino, isto é, decide solidariamente com a comunidade
educativa o perfil de aluno que se quer formar, os objetivos a seguir, as metas
a alcançar. E isso não apenas no tocante a sua matéria mas toda a proposta
pedagógica.
A LDB discorre sobre a elaboração e o cumprimento do plano de trabalho,
trazendo à tona a organização do professor e a objetividade no exercício de sua
função. No tocante à aprendizagem dos alunos, fala em zelo no sentido de
acompanhamento dessa aprendizagem, que se dá de forma heterogênea, individual.
Zelar é mais do que avaliar, é preocupar-se, comprometer-se, buscar as causas
que dificultam o processo de aprendizagem e insistir em outros mecanismos que
possam recuperar os alunos que apresentem alguma espécie de bloqueio para o
aprendizado.
O professor só conseguirá fazer com que o aluno aprenda se ele próprio
continuar a aprender. A aprendizagem do aluno é, indiscutivelmente, diretamente
proporcional à capacidade de aprendizado dos professores. Essa mudança de
paradigma faz com que o professor não seja o repassador de conhecimento, mas
orientador, aquele que zela pelo desenvolvimento das habilidades de seus
alunos. Não se admite mais um professor mal formado ou que pare de estudar.
O artigo termina falando da colaboração do professor nas atividades de
articulação da escola, com as famílias e a comunidade. Aliás, para que o
processo de aprendizagem seja eficiente, os atores sociais precisam participar
e essa articulação é imprescindível. A parceria escola/família,
escola/comunidade é vital para o sucesso do educando. Sem ela a já difícil
compreensão do mundo por parte do aluno se torna cada vez mais complexa. “Juntas,
sem denegar responsabilidades, a família, a escola, a comunidade pode
significar um avanço efetivo nesse novo conceito educacional: a formação do
cidadão.”
“Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui”.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes.
Assim em “cada lago a lua toda brilha, porque alta vive.”
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