Este ensaio foi apresentado no Curso de Pós Graduação 0 Professor na contemporaneidade
Ulbra-Torres dia 01 de setembro de 2011.
A
POSSIBILIDADE E EDUCAÇÃO PELA PESQUISA.
A pesquisa
escolar está circunscrita no contexto da pesquisa educacional como um
elemento constitutivo da construção do conhecimento. Construir conhecimento
implica no ato de ensinar e aprender – aqui entendido como a criação de possibilidades para que o
sujeito chegue sozinho às fontes de conhecimento que estão à sua disposição na
sociedade. A sociedade atual é caracterizada pelo desenvolvimento tecnológico,
o qual, por sua vez, gera uma acelerada produção e disseminação de informações.
A quantidade e velocidade de tais informações
geram desconforto por parte das
instituições de ensino, pois não acompanham esse ritmo, principalmente
no campo da pesquisa escolar. Esta realidade deve-se, numa primeira instância,
à compreensão equivocada que os professores têm da pesquisa escolar. Num
segundo momento, apontaríamos o despreparo na orientação das pesquisas em sala
de aula. A junção desses fatores dificulta a efetivação da pesquisa e
conseqüentemente da aprendizagem. Se o professor abrir mão de seu papel
fundamental de orientador da aprendizagem de seus alunos, estará se
responsabilizando pelo que vier a acontecer com eles, quando tentarem desvelar
os caminhos da pesquisa na escola.
Para uma grande maioria de
estudantes, pesquisar tem o significado de transcrição de conteúdos e
informações. Com o surgimento da internet, a pesquisa seguiu
outros caminhos e perdeu seu verdadeiro significado. A compreensão demonstrada
por alguns professores a respeito da pesquisa se resume em reprodução, pois não
existe sequer um esclarecimento, nem um roteiro e/ou uma orientação prévia.
Para alguns professores, fazer pesquisa com seu aluno significa propor que ele
vá à biblioteca para procurar um livro sobre o assunto estudado. Talvez por
esses e outros motivos, a grande maioria dos estudantes, quando ouve a palavra
pesquisa, reluta e resiste. (Bagno, 2006)
Em muitos casos a motivação para se
fazer pesquisa é obter uma nota. A realização de um trabalho de pesquisa
somente com objetivo de obtenção da nota final não se dá por meio de um
processo educativo consistente e verdadeiro. É necessário que exista um real
motivo ou uma real necessidade para conhecer, compreender e entender o objeto
de estudo.
É necessário, portanto, desmistificar
o conceito criado em torno da palavra pesquisa e ressignificá-lo para
reconsiderar esta prática educativa que está muito além do que vem acontecendo
em algumas salas de aula. O trabalho com pesquisa requer um conjunto de
atividades orientadas pelo professor, com o objetivo de buscar, descobrir e
criar um determinado conhecimento acerca de um objeto de estudo. Ressaltamos
que o questionamento e a curiosidade do indivíduo antecedem essa busca, essa
descoberta ou essa criação. Portanto, a curiosidade intrínseca do indivíduo o
leva a duvidar, a formular hipóteses, a confirmar suas certezas, tomando
consciência de si próprio e do seu objeto de estudo.
De acordo com Demo (2002, p. 11),
“[...] a criança é, por vocação, um pesquisador pertinaz, compulsivo. A escola,
muitas vezes, atrapalha esta volúpia infantil, privilegiando em excesso
disciplina, ordem, atenção [...]”. Desde os primeiros dias de vida, a criança é
instigada pelo ambiente que a cerca a descobrir e a descobrir-se. Durante toda
a infância, a curiosidade está presente, provocando a criança a aprender, a
entender, a descobrir e a inventar.
"Não há ensino sem pesquisa e
pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro.
Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque
indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, contatando
intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não
conheço e comunicar ou anunciar a novidade (FREIRE, 1999, p. 32).
A pesquisa deve ser entendida não
como um trabalho maçante ou uma cópia de trechos de livros e enciclopédias, mas
como uma atividade básica no processo de apropriação dos conhecimentos
escolares, pois, por meio dela, busca-se oferecer o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado. Por meio da pesquisa, o ensino-aprendizagem pode ser
pensado para além de um conjunto de conhecimentos sistematizados e apresentados
por meio de livros didáticos que, muitas vezes, desconsideram o contexto
escolar dos alunos. A pesquisa facilita o trabalho pedagógico, pois o professor
pode trabalhar, ao mesmo tempo, com diversas áreas do conhecimento. Mas, para
que a pesquisa esteja presente no cotidiano da sala de aula, é imprescindível
que o professor tenha clareza na elaboração do seu planejamento.
A pesquisa da própria prática pedagógica
No exercício de sua prática
pedagógica, o professor atua em diversos níveis: conduzindo o processo de
ensino-aprendizagem, avaliando os alunos, contribuindo para a construção do
projeto educativo da escola e para o desenvolvimento da relação da escola com a
comunidade. Em todos estes níveis, o professor defronta-se constantemente com
situações problemáticas. Os problemas que surgem são, de um modo geral,
enfrentados tendo por base a sua experiência profissional, mas frequentemente,
isso não conduz a soluções satisfatórias. Daí a necessidade do professor se
envolver em investigação que o ajudem a lidar com os problemas da sua prática.
Na verdade, o ensino é mais do que
uma atividade rotineira onde se aplicam simplesmente metodologias
pré-determinadas. Trata-se de uma atividade complexa que envolve
simultaneamente aspectos intelectuais, políticos e de gestão de pessoas e
recursos. Percebendo o ensino como um campo vasto de relações, torna-se
necessário que o professor faça uma constante exploração, avaliação e
reformulação de sua prática. É preciso experimentar formas de trabalho que
levem os seus alunos a obter os resultados desejados. Para isso, é
indispensável compreender bem os modos de pensar e as dificuldades próprias dos
alunos. Um ensino bem sucedido requer que os professores examinem continuamente
a sua relação com os alunos, os colegas, os pais e o seu contexto de trabalho.
Além disso, uma participação ativa e consistente na vida da escola requer que o
professor tenha uma capacidade de argumentar e fundamentar as suas propostas. A
base natural para essa atuação, tanto na sala de aula como na escola, é a
atividade investigativa, no sentido de atividade inquiridora, questionadora e
fundamentada.
Assim, podemos dizer que a pesquisa
da prática, na sua participação no desenvolvimento curricular, constitui um
elemento decisivo da identidade profissional dos professores.
Uma atividade reflexiva e inquiridora
é geralmente realizada pelos professores de um modo intuitivo e não do modo
formal próprio da investigação acadêmica. Na verdade, a pesquisa dos
professores sobre a sua prática, servindo a propósitos específicos, não tem que
assumir características idênticas à investigação realizada em contextos
institucionais. Mas tem bastante a ganhar se os professores cultivarem uma
abordagem mais cuidada na formulação das suas questões de investigação e na
condução dos seus projetos de intervenção nas escolas.
Acredito que, a pesquisa é um
processo privilegiado de construção do conhecimento. A pesquisa sobre a prática
é, por conseqüência, um processo fundamental de construção do conhecimento
sobre essa mesma prática e, portanto, uma atividade de grande valor para o
desenvolvimento profissional dos professores que nela se envolvem ativamente.
E, para além dos professores envolvidos, também as instituições educativas a
que eles pertencem podem se beneficiar fortemente pelo fato dos seus membros se
envolverem neste tipo de atividade, reformulando as suas formas de trabalho, a
sua cultura institucional, o seu relacionamento com o exterior e até os seus
próprios objetivos.
Considerações finais
Acreditamos que ninguém pode se
tornar professor pesquisador sem compreender a dimensão e os limites da
pesquisa em educação. Pensamos ser possível a formação de um professor
pesquisador e, para isso, é imperativo uma maior preocupação na estruturação do
currículo que forma esse professor. È fundamental oportunizar durante sua
formação estudos que discutam a pesquisa, sua natureza e o seu fazer. Os
professores precisam ser vistos como autores de sua prática e intelectuais
capazes de refleti-la e pesquisa-la.
Nenhum comentário:
Postar um comentário