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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

PARECERES - PONTOS E CONTRAPONTOS

Pontos & contrapontos: Como vai meu filho na escola, professor?
Por Jussara Hoffmann
Muitas escolas consideram que a tarefa de avaliar está cumprida quando apresentam às famílias os resultados parciais ou finais de desempenho escolar dos alunos. As formas de apresentação sofrem variações dependendo da concepção defendida pelas escolas: pareceres descritivos/relatórios, cadernetas de notas, portfólios, dossiês.
As questões em pauta neste artigo são duas: a) serão os pais os principais destinatários desses documentos? b) Compreenderão todos eles, em profundidade, o significado dos pareceres ali emitidos?

Observando o portfólio de um aluno de Ensino Fundamental, deparei-me com uma coleção de um ou dois exemplares de textos, tarefas, desenhos, testes e auto-avaliações realizados por ele bimestralmente em todas as disciplinas. A cada período letivo, repetia-se uma coleção semelhante de suas “produções”. Algumas com correções, observações e conceitos, outras sem qualquer anotação. Perguntei, então, aos professores o que as produções apresentadas significavam em termos do desempenho global do aluno (satisfatório ou não?), ou seja, o que este conjunto estaria representando em termos de seus avanços, conquistas, eventuais dificuldades de aprendizagem. Perguntei-lhes, também, quais seriam suas considerações, orientações e/ou recomendações quanto a questões ali evidentes – uma vez que o menino estaria sendo promovido a outra série, sob a responsabilidade de outros professores. Alguns se surpreenderam com minhas perguntas e disseram que muitas tarefas tinham sido escolhidas pelo próprio aluno, poucas por eles. Que o portfólio já estaria comprovando a qualidade do desempenho do estudante, assim como o trabalho realizado pelos professores e pela escola. Confesso, entretanto, que nada disso me ficou claro na leitura. As produções escolares, por exemplo, haviam sido reunidas aleatoriamente e abordando diferentes conteúdos. Não ficaria tranquila, se fosse meu filho, quanto ao seu desempenho escolar. (Teoricamente, sugere-se arquivar, no portfólio, produções representativas que permitam interpretar a evolução do aluno em determinada área de conhecimento. Fazem parte dele também as sínteses globalizadoras do professor que dá sentido valorativo ao conjunto.) Trago o exemplo de uma situação que costuma gerar desconfiança e atritos entre pais e professores no quesito avaliação. Neste caso incluem-se os “relatórios atrativos e superficiais”, como este portfólio, as fichas padronizadas de avaliação, os pareceres descritivos roteirizados e mesmo as tradicionais cadernetas de notas + pareceres atitudinais. Pela fragilidade ou superficialidade das informações recebidas, os pais tendem a fazer a costumeira pergunta: “Afinal, como vai meu filho na escola, professor?” O que receiam? Não saber se, afinal de contas, seus filhos estão apresentando um desenvolvimento adequado à sua faixa etária.

Relatórios de avaliação são instrumentos essenciais ao trabalho pedagógico em primeiro lugar. Os pais não são seus destinatários principais, mas precisam compartilhar, como pais educadores, dessas informações. As escolas têm o compromisso de possibilitar-lhes o acesso permanente e consistente a tal informação, minimizando a insegurança das famílias, bem como sua interferência nas decisões de caráter exclusivamente pedagógico. Sem dúvida, encontrar uma forma adequada de relatar a qualidade do desempenho escolar favorece uma outra dimensão de participação da família na escola. Infelizmente, não há uma receita para se cumprir tal tarefa em sua plenitude. Pela experiência que tenho, não é simplesmente mudando da caderneta de notas para relatórios descritivos, por exemplo, que isto acontece. As notas, já sabemos, pouco revelam, além de aceitar uma gama infindável de distorções, arbitrariedades e interpretações subjetivas. Exacerbam a competição e o individualismo entre crianças, jovens, famílias. Muitos pareceres descritivos, por outro lado, são questionáveis quando focam por demais as questões atitudinais, ao seguirem padrões e roteiros, centrados mais no trabalho dos professores do que nos alunos .Bons relatórios resultam, isto sim, de um efetivo acompanhamento individual, da tenacidade de se observar cada estudante no dia-a-dia da sala de aula, conversando muito com ele e sua família, refletindo sobre como está evoluindo e intervindo adequadamente - uma ação pedagógica crítico-reflexiva que irá resultar naturalmente numa clara e consistente comunicação de resultados do desempenho escolar. O que se escreve sobre o aluno tem por origem o que se construiu para ele, com ele e na relação com seu contexto familiar e social. A pluralidade de formas disponíveis exige, de um lado, a consciência dos fins e da natureza de cada uma delas e, ao mesmo tempo, a certeza de que, em benefício ao educando, uma é preferível às demais. Nenhum avaliador pode se declarar neutro, obediente a normas ou arbitrário neste sentido, uma vez que apresentar tais “resultados” incute em decisões éticas que afetam para sempre a vida dos alunos e de seus familiares.



Jussara Hoffmann é Escritora, Conferencista e Consultora em Educação. Diretora da Editora Mediação - A Editora do Professor







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